Spin Machine
Dan Galeria Contemporânea, Rua Amauri 73, São Paulo, Brazil
25 May > 17 Aug. 2024 / Curator: Franck James Marlot
Spin Machine [PT]
Nosso tempo está indissociavelmente ligado à velocidade. Velocidade do ritmo do fluxo de informações e da multiplicação de imagens, intensificados desde a década passada pela tecnologia digital associada à inteligência artificial. Ferramentas de conhecimento em sua origem, a internet e seus navegadores, seguidos pelas redes sociais, tornaram-se, nos dias de hoje, instrumentos de propaganda a serviço de uma economia e de um pensamento globalizados.
Essas mudanças abruptas não escaparam a Pascal Dombis, certamente um dos artistas plásticos franceses que mais soube captar, desde meados dos anos 1990, a importância das transformações pós-digitais. Apresentado ao Brasil em 2008 na fachada do prédio do Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, e mais recentemente, em 2022, em uma exposição monográfica no MACS, em Sorocaba, o trabalho de Pascal Domis oferece a oportunidade de se descobrir, agora na Dan Galeria Contemporânea, uma obra multiforme e crítica, que desestabiliza a noção universal de tempo utilizando os fluxos digitais como matéria-prima.
No começo dos anos 1990, quando concluía seus estudos em Boston, Dombis descobre as possibilidades abertas pelas ferramentas da informática para a criação artística. Após seu retorno à França, ela passa da prática da pintura à prática dos algoritmos. Integra o primeiro grupo de artistas fractalistas, dos quais acaba por se distanciar para focar seu desejo de experimentar algo que fosse além da temática dos fractais. Desde então, o artista passa a se utilizar de repetições abundantes para criar formas geométricas ou tipográficas por meio de afrescos murais digitais, obras em formato de lente ou instalações de vídeo. A partir de uma forma visual simples, Dombis desenvolve suas obras usando algoritmos para gerar uma proliferação extraordinária de imagens, dando origem a efeitos ao mesmo tempo complexos e inesperados.
A partir dos anos 2000, Dombis adota a técnica lenticular, que marcará suas composições, criando a ilusão de um movimento de fluxos ininterruptos de informações. Propício para a gestação acelerada de incidentes visuais, o recurso lenticular, por meio da luz, filtra as imagens e os textos compondo uma laminação inesperada, que proporciona à obra uma grande profundidade visual. Por meio desse artifício de realidade aumentada, ele leva o espectador a se deslocar diante da obra, de modo a fruir os diferentes pontos de vista possíveis, dando vez, nessa experiência sensorial, ao acaso e ao impreciso.
Embora o artista não assuma adotar à sua maneira o receituário da Op Art, encontramos aqui a mesma instabilidade visual, criada a partir de efeitos ópticos, presente no trabalho dos artistas do Groupe de Recherche d’Art Visuel [Grupo de Investigação em Arte Visual] (Paris 1960/1968), composto especialmente por Sobrino (aqui apresentado em 2022), Le Parc, Morellet, Yvaral e Garcia Rossi. Mas, enquanto o GRAV enfatiza a crítica social, Pascal Dombis questiona a própria natureza das imagens e a maneira de olhá-las considerando a proliferação descontrolada.
Dentre as obras de Pascal Dombis, as mais instigantes são, certamente, as da série Post Digital Mirror e Post Digital Surface, que encarnam o paradigma do reflexo graças a suas inúmeras incidências digitais. O chapeamento desmedido de imagens gera obras monocromáticas, criando uma ilusão real de reflexo, com cores elétricas saturadas. Esses espelhos pós-digitais revelam um efeito de moiré, sendo ativados somente a partir do deslocamento do espectador. Com essa série, Dombis aponta para o vazio da imagem que desaparece, em prol de um jogo de dependência entre a obra de arte e o espectador. A dimensão acidental das obras, com suas formas inesperadas e sua gama de cores descontrolada, torna-se possível a partir do princípio do flicker. Criada em 1959, a famosa Dream Machine de Brion Gysin, amigo do escritor William S. Burroughs, materializa essa experiência sensorial do flicker ao ampliar os limites da incidência óptica com o objetivo de desestabilizar o espectador em sua percepção do espaço-tempo. Spin Machine, apresentada no centro da mostra e que dá o nome a esta exposição, atende ao mesmo princípio da Dream Machine, provocando uma experiência hipnótica por meio do movimento giratório de caixotes que captam a luz e refletem as tramas lenticulares.
Fechando a exposição, a instalação interativa THE END OF ART IS NOT THE END faz parte de uma série de peças que são as mais icônicas de toda a obra de Pascal Dombis. Composta por mais de 20.000 imagens retiradas de pesquisas no Google sobre “O fim da arte”, ela explora os múltiplos sentidos do fim da arte, mas também de todos os “fins de…” que caracterizam o nosso tempo: o fim do homem, o fim da civilização, o fim das ideologias, o fim da história e, é claro, o fim do mundo. A frase de Ad Reinhardt, o pintor de Radical
Paintings, “The end of art is not the end” (1), mistura-se com um fluxo de imagens, criando uma narrativa contínua que adere à parede feito uma pele. Ao aplicar uma lâmina lenticular, como um revelador da imagem, na superfície texturizada e pictural da grade de informações, o próprio espectador movimenta a obra, descobrindo, nela, o invisível indizível. Por intermédio desse lúdico arranjo fotográfico, o visitante se apropria, de maneira fragmentada, na medida de seu próprio corpo, de uma coleção inútil de dados destinados ao esquecimento.
Lançador de alertas, o artista urbano questiona as mudanças estruturais que acompanham evolução da sociedade. Nosso futuro, bem como a memória de nosso passado, depende dele. Começando, como processo criativo, por um postulado algorítmico simples ou uma consulta permanente em algum mecanismo de busca, o trabalho de Pascal Dombis constitui-se numa procura sem fim. O artista elabora uma obra atravessada pela noção do tempo –de todos os tempos. O tempo que se estende como uma curva infinita, o tempo que se acelera em sintonia com a máquina que calcula, o tempo elástico que desafia a física e se dilata para ocupar o espaço da quarta dimensão.
A exposição SPIN MACHINE é uma proposta de experiências de Pascal Dombis através das quais ele capta os sinais de uma falência futura perscrutando a proliferação desmedida de sequências transpostas para suas colagens digitais a fim de conferir, por meio de uma densidade estrutural abissal, um eco à sua própria destruição.
Franck James Marlot, Maio 2024
(1) Extraído de Art-as-Art Dogma, Parte III, publicado em março de 1965, Art News, Nova York
Spin Machine [FR]
Notre époque est immanquablement associée à la vitesse. Vitesse du débit des flux d’informations et de la démultiplication des images, que l’outil numérique associé à l’intelligence artificielle ont amplifiées depuis la dernière décennie. A l’origine, outil de connaissance, internet et ses navigateurs, puis les réseaux sociaux sont devenus aujourd’hui des bases de propagande au service d’une économie et d’une pensée globalisées. Ces bouleversements n’ont pas échappé à Pascal Dombis qui est certainement l’un des plasticiens français qui, depuis le milieu des années 90’, a le mieux perçu l’importance de ces mutations post-digitales.
Présenté au Brésil en 2008 sur la façade de l’immeuble de l’Instituto Itau Cultural de São Paulo et plus récemment dans une exposition monographique au MACS de Sorocaba en 2022, le travail de Pascal Dombis est l’occasion de découvrir, à la Dan Galeria Contemporânea, une œuvre protéiforme et critique qui investit la notion universelle du temps par l’utilisation des flux numériques comme matière première de son travail.
Au début des années 90, Dombis terminant ses études à Boston, découvre les possibilités qu’offrent les outils informatiques pour la création artistique. A son retour en France, il passe de la pratique de la peinture à celle des algorithmes. Il participe du premier groupe d’artistes fractalistes mais s’en détache pour accéder à ses désirs d’expérimenter au-delà du thème fractal. Depuis, l’artiste utilise les répétitions excessives pour créer des formes géométriques ou typographiques à travers des fresques numériques murales, des œuvres lenticulaires et des installations vidéo. À partir d’une forme visuelle simple, Dombis développe ses œuvres en utilisant les algorithmes pour engendrer une prolifération extrême donnant lieu à des effets à la fois complexes et inattendus.
Depuis les années 2000, Dombis utilise le lenticulaire qui imprime ses compositions donnant l’illusion d’un mouvement des flux ininterrompus d’informations. Aussi, propice à une accélération d’accidents visuels, le lenticulaire filtre par la lumière les images et textes en un feuilletage inattendu qui donne une profondeur visuelle à l’œuvre. Par cet artifice de réalité augmentée, il incite le spectateur au déplacement face à l’œuvre pour interroger les possibles points de vue et convoquer le hasard et le flou dans cette expérience sensorielle. Même s’Il se défend de reprendre à son compte les recettes de l’Op Art, on retrouve cette instabilité visuelle par les effets optiques développés dans les travaux des artistes du Groupe de Recherche d’Art Visuel (Paris 1960/1968) composé notamment de Sobrino (présenté ici même en 2022), Le Parc, Morellet, Yavaral et Garcia Rossi. Mais là où le G.R.A.V distille en creux une critique sociale, Pascal Dombis interroge la nature même des images et la manière de les regarder face à leur prolifération incontrôlée.
Les pièces de la série Post Digital Mirror et Post Digital Surface sont certainement les plus séduisantes des œuvres créées par Pascal Dombis, incarnant le paradigme du reflet grâce à leurs nombreuses incidences informatiques. Le feuilletage excessif d’images génère des œuvres monochromes, créant une illusion réelle de reflet avec des couleurs électriques saturées. Ces miroirs post-digitaux révèlent leur effet de moiré et s’active seulement avec le mouvement du spectateur. Par cette série, Dombis pointe du doigt la vacuité de l’image qui disparaît au profit d’un jeu de dépendance entre l’œuvre d’art et le spectateur. La dimension accidentelle des œuvres, aux formes inattendues et à la gamme de couleurs incontrôlable, est rendue possible par le principe du flicker. Créée en 1959, célèbre Dream Machine de Brion Gysin, ami de l’écrivain William S. Burroughs, matérialise cette expérience sensorielle du flicker en repoussant les limites de l’incidence optique dans le but de déstabiliser le spectateur dans sa perception de l’espace-temps. Spin Machine, présentée au centre de l’exposition et qui donne son nom au titre de l’exposition, répond au même principe que la Dream Machine en créant une expérience hypnotique par le mouvement giratoire des caissons qui captent la lumière et reflètent les trames lenticulaires.
L’installation interactive THE END OF ART IS NOT THE END, clôturant l’exposition, fait partie d’une série de pièces parmi les plus iconique dans l’œuvre de Pascal Dombis. Composée de plus de 20 000 images issues de recherches Google sur le mot clé “The end of art” elle explore les multiples fins de l’art mais aussi celles de toutes les “fins de…” qui caractérise notre époque actuelle : fin de l’homme, fin de la civilisation, fin des idéologies, fin de l’histoire et bien sûr fin du monde. L’apophtegme du peintre des Radical Paintings Ad Reinhardt, “The End of Art is not the End (1),” se mêle au flux d’images, pour créer un récit ininterrompu qui colle au mur comme une peau. En appliquant une feuille de lenticulaire, comme un révélateur de l’image, sur la surface texturée et picturale de la grille d’informations, le spectateur anime l’œuvre pour en découvrir l’indicible invisible. Par cette mise au point photographique ludique le visiteur s’approprie, de façon parcellaire à l’échelle de son corps, une collection vaine de données vouées à la l’oubli.
Lanceur d’alerte, l’artiste dans la cité interroge les changements structuraux qui accompagnent la société. Notre futur comme la mémoire de notre passé en dépendent. Initiée par un postulat algorithmique simple ou bien par une requête en boucle dans un moteur de recherche comme processus créatif, l’œuvre de Pascal Dombis est une quête incessante. Il élabore une œuvre traversée par la notion du temps, de tous les temps. Le temps qui s’étire comme une courbe infinie, le temps qui s’accélère en phase avec la machine qui calcule, le temps élastique qui défie la physique et se dilate pour occuper l’espace de la quatrième dimension.
L’exposition SPIN MACHINE est une proposition des expérimentations de Pascal Dombis par lesquelles il capte les signes d’une faillite à venir en scrutant la prolifération excessive de séquences qu’il transpose dans ses collages numériques pour leur donner par une densité structurale abyssale, un écho à leur propre perdition.
Franck James Marlot, Mai 2024
(1) Extrait de Art-as-Art Dogma, Part III, publié en Mars 1965, Art News, New York
Spin Machine [EN]
Our era is inevitably associated with speed. The speed of information flow and the proliferation of images, amplified by digital tools associated with artificial intelligence over the past decade. Originally tools for knowledge, the internet, its browsers, and then social networks, have now become bases for propaganda in service of a globalized economy and thought. Pascal Dombis is certainly one of the French visual artists who, since the mid-90s, has best perceived the importance of these post-digital mutations.
Presented in Brazil in 2008 on the facade of the Instituto Itau Cultural building in São Paulo and more recently in a monographic exhibition at MACS in Sorocaba in 2022, Pascal Dombis’ work offers an opportunity to explore, at Dan Galeria Contemporânea, a protean and critical oeuvre that engages with the universal notion of time through the use of digital flows as the raw material of his work.
In the early 1990s, Dombis, completing his studies in Boston, discovered the possibilities offered by computer tools for artistic creation. Upon returning to France, he transitioned from painting to algorithmic practice. He was part of the first group of fractalist artists but distanced himself to pursue his desire to experiment beyond the fractal theme. Since then, the artist has employed excessive repetitions to create geometric or typographic forms through mural digital frescoes, lenticular works, and video installations. Starting from a simple visual form, Dombis develops his works using algorithms to generate extreme proliferation, resulting in effects that are both complex and unexpected.
Since the 2000s, Dombis has been using lenticular printing to imprint his compositions, creating the illusion of movement from uninterrupted flows of information. Additionally, conducive to an acceleration of visual accidents, lenticular filtering through light layers images and texts in an unexpected manner, providing visual depth to the work. Through this augmented reality artifice, he encourages the viewer to move around the artwork, questioning possible perspectives and invoking chance and blur in this sensory experience. While he defends himself from adopting Op Art’s recipes, we can find this visual instability through optical effects developed in the works of artists from the Groupe de Recherche d’Art Visuel (Paris 1960/1968), including Sobrino (presented here in 2022), Le Parc, Morellet, Yavaral, and Garcia Rossi. However, whereas the G.R.A.V. indirectly critiques society, Pascal Dombis questions the very nature of images and how we perceive them in the face of their uncontrollable proliferation.
The pieces from the series Post Digital Mirror and Post Digital Surface are certainly the most captivating works created by Pascal Dombis, embodying the paradigm of reflection thanks to their numerous computational incidences. The excessive layering of images generates monochromatic works, creating a real illusion of reflection with saturated electric colors. These post-digital mirrors reveal their moiré effect and only activate with the movement of the viewer. Through this series, Dombis points out the vacuity of the image, which disappears in favor of a game of dependence between the artwork and the spectator. The accidental dimension of the works, with unexpected shapes and an uncontrollable range of colors, is made possible by the principle of flicker. Created in 1959, the famous Dream Machine by Brion Gysin, a friend of writer William S. Burroughs, materializes this sensory experience of flicker by pushing the limits of optical incidence in order to destabilize the viewer’s perception of space-time. Spin Machine, presented at the center of the exhibition and which gives its name to the exhibition title, follows the same principle as the Dream Machine by creating a hypnotic experience through the spinning movement of the cabinets that capture light and reflect lenticular patterns.
The interactive installation “THE END OF ART IS NOT THE END,” closing the exhibition, is part of a series of pieces among the most iconic in Pascal Dombis’ work. Comprising more than 20,000 images from Google searches on the keyword “The end of art,” it explores the multiple endings of art but also those of all the “ends of…” that characterize our current era: the end of man, the end of civilization, the end of ideologies, the end of history, and of course, the end of the world. The aphorism of the painter of the Radical Paintings, Ad Reinhardt, “The End of Art is not the End,” blends with the flow of images to create an uninterrupted narrative that sticks to the wall like skin. By applying a lenticular sheet, like a revealer of the image, onto the textured and pictorial surface of the information grid, the viewer animates the artwork to discover the unspeakable invisible. Through this playful photographic adjustment, the visitor appropriates, in a fragmented way on the scale of their body, a vain collection of data destined to be forgotten.
As a whistleblower, the artist in society questions the structural changes that accompany it. Our future, like the memory of our past, depends on it. Initiated by a simple algorithmic premise or by a looped query in a search engine as a creative process, Pascal Dombis’ work is an incessant quest. He develops a body of work imbued with the notion of time, of all times. Time that stretches like an infinite curve, time that accelerates in phase with the calculating machine, elastic time that defies physics and expands to occupy the space of the fourth dimension.
The exhibition SPIN MACHINE is a proposition of Pascal Dombis’ experiments through which he captures the signs of an impending collapse by scrutinizing the excessive proliferation of sequences that he transposes into his digital collages, giving them, through an abyssal structural density, an echo of their own downfall.
Franck James Marlot, May 2024
(1) Excerpt from “Art-as-Art Dogma, Part III,” published in March 1965, Art News, New York.